17 abril, 2013

Bilhetinho Maldito




              um lindo homem disse que é preciso desenrolar a arte cavalheiresca do arqueiro zen, parar tudo e esquecer o que aprendi. na hora certa lembrarei

irmãozinho, depois de tantos anos transando a vida, varando dias e noites capinando as ideias e compondo novos corpos, você queria mesmo me enquadrar num diploma e fazer a sinceridade das minhas cores serem abafadas numa ridícula beca preta?

deixemos  isso para os cordeiros, mandarei essa galera toda ter mais coragem para inventar suas próprias danças e formaturas
      
aliás, essas letras sorridentes e musculosas precisaram de muito atletismo afetivo para cair na estrada. o arremate demorou o tempo necessário para um ariano curioso, sete anos de presença

depois?

de repente, nunca vou saber, nem ninguém. é preciso suportar o mistério e experimentar cada tristeza ou alegria na duração de uma caminhada. vou sentar outra vez com os xamãs, militantes, orixás, filósofos, artistas e malucos; ascender um incenso e deixar rolar outras viagens

 chega de territórios, a pele vai suar arrepiando na direção do destino, seguindo o sopro e amando cada oportunidade como se fosse repetir para sempre e da mesmíssima forma. uma forma de nunca saber o quanto tudo será diferente

agora quero apenas um festejo farto, uma bela despedida de amor, mas de amor sem fama, sem foto botox, citações, igrejinhas ou qualquer outra coisa cara e de sempre

dos psicólogos e amigos agradeço aos que me saquearam o eu e deixaram os nós. finalmente descobri que desejo não existe apenas na falta, que as invenções não são apenas mentiras, que o pensamento é apenas uma das provocações do corpo e que este "não é mais que uma coletividade de numerosas almas".

aprendi, fora da aula, a escutar humildemente os irmãos dessa vida tirana e adoecida. é por eles que continuo a estudar e ralar na psicologia

vou aprendendo a ter o fim como aliado
      fui, beijinhos  




Por Bibi Serafim/ foto de Yuji Kodato

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