18 setembro, 2009

Vida


Eu vos peço,
Quero ser desejado pelas faxineiras dos hospitais públicos
Papear com cabrochas, senhoras e datenas
Ser prazer e te chamar de puta enquanto me unha
E grita de dor
Distrair ao menos o agrado de algumas colegas de profissão
Para assim
Gozar de vossa alegria
Juntos

Ouvir e ser ouvido nos botecos e corredores dos moribundos
Tatear realidade com a desilusão da fissura matinal
Sentir o cheiro de esgoto nas flores dos mercadões municipais
Almoçar coxinha nas promoções do camelódromo central
Me exprimir na sexagésima passagem do ônibus de quarenta poltronas
Sacando uma senha infinita na espera do atendimento geral

Enquanto ainda cedo os vereadores escolhem nossas prioridades
Vou pichar mais dezenas de prédios toda vez que suspirar revolução
Deitando com aquele sorriso malandro de quem saciou o desejo enrustido
Entre os vários Serafins
E vou
Sair fora do eixo a trancar quantas vezes for possível
A faculdade do especialismo
Garantindo
Como nos direitos universais
O direito de universalizar minha vida

Não quero fingir ser razão enquanto suspiro loucura
Estarei ensandecido quando você esperar mansidão
Vou viver menos que um boêmio e cair de cama muito depois da geração saúde
Dedurar todos os não comprometidos com o prazer
Temer e ser temido enquanto apenas penso
Exigindo e eximindo palavras

Ainda preciso
Esgotar sarcasmo com os meus singelos olhares discretos
Saber das pálpebras se elas me protegem ou fazem denúncias quando insisto
Em varar madrugadas

Quero ter a certeza que não vou agradar a todos
Para assim
Finalmente
Suspeitar ou acreditar que sou um sujeito de potência peculiar.



Por Bibi Serafim

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